Carnaval de um gateiro

No caos do dia, um gateiro corre contra o tempo enquanto seu gato luta pela vida.

Marcus Almeida Machado

10/12/20252 min read

Enquanto meu gato cambaleava pelo corredor entre a sala e a cozinha, os demais felinos que vivem comigo demonstravam apreensão. Provavelmente perceberam a grave situação de seu irmãozinho de pelo.

Meu coração entrou no modo congelamento. Por um instante, recordei situações de medo e perda. O interfone de casa começou a apitar como um trem desgovernado. Peguei o Spider no colo e o coloquei em cima da mesa. Seus olhos — dispersos — me desconcertavam. Na noite anterior, ele pulava de um lado para o outro. Contente. Esperto. Hoje, estava assim, frágil e distante.

Corri para pegar a caixa de transporte. O interfone continuava a berrar, incansável. Mantive a calma, não podia atender naquele momento. Forrei a caixinha com uma toalha limpa, sentindo cada movimento do Spider sob minhas mãos, e peguei o celular. Precisava descobrir se algum veterinário não havia viajado no Carnaval e não cobraria um rim para salvar meu gato.

Duas clínicas conhecidas não me responderam por mensagem. Liguei, mas ninguém atendeu. O interfone não se cansava. Puxei o aparelho do gancho e respondi o barulho com um “Oi!”. Ninguém respondia, nem nas clínicas, nem no interfone. A ansiedade começava a me dominar, e minhas mãos tremiam de nervosismo.

Liguei para o terceiro veterinário, que não conhecia. Ele estava trabalhando, mas a taxa de Carnaval era alta demais — para uma clínica que dizia amar os animais. O trem continuava berrando. Peguei o interfone novamente e gritei: “Eae?” — mas fui ignorado mais uma vez.

Lembrei de outra clínica. Spider esmorecia em cima da mesa. A veterinária garantiu que não cobrariam preço extra por ser dia de folia nacional. Coloquei o gato na caixinha de transporte e chamei um Uber.

O som insistente do aparelho não me dava trégua. Tirei do gancho, abri a porta e desci correndo as escadas. O Uber demoraria dois minutos para chegar. Não esperei na rua, pois não queria assustar meu gato com os barulhos de carros e motos.

O carro se aproximava. Abri o portão e dei de cara com o apertador do interfone. Meu semblante ficou carregado. O rapaz perguntou se eu era o Aloísio. Meu ódio ferveu a minha mente, e eu não sabia se ofendia o cara ou prestava atenção no aplicativo.

Respirei fundo… e não disse nenhuma palavra. Só pensei: “Aloísio é o caralho!”

Atravessei a rua. O Uber chegou. Abri a porta e coloquei a caixinha no banco, enquanto meu gato parecia mais atento, apesar de fraco. Disse ao motorista que, dentro da caixa, havia uma onça ferida. Ele afirmou não gostar de gatos, fez o sinal da cruz e disse que, se Deus quisesse, tudo ficaria bem.

Encostei minha cabeça no apoio do banco, respirei fundo e partimos para o último adeus — como o Deus do motorista quis.